10 de novembro de 2020
Nos dias 9 e 10 de novembro de 1938, aconteceu o Pogrom da “Noite dos Cristais” ou Kristallnacht, em alemão, nome dado ironicamente pelos próprios nazistas por causa das ruas inundadas de cacos de vidro, resultado da destruição observada pelos pedestres no dia seguinte. Mas o que foi isso?
O partido nazista chegou ao poder em 1933 na Alemanha. Comandado por Adolf Hitler, ao longo dos anos foram sendo promulgadas políticas raciais que proibiam os judeus de assumirem cargos públicos, proibiam empresas alemãs de prestarem serviço aos judeus, proibiam que judeus e arianos (a “raça pura”) se casassem, dentre outras políticas que cerceavam cada vez mais os direitos dos judeus, os transformavam em cidadãos de segunda classe e os separavam do convívio com o resto da população.
Em 1938, milhares de judeus poloneses que viviam na Alemanha foram deportados para a Polônia, mas o governo polonês não os aceitou, e eles ficaram presos na fronteira em condições miseráveis. O filho de um desses judeus, Herschel Grynspan, vivia em Paris e, revoltado com a situação, comprou uma arma, entrou na embaixada alemã e atirou no diplomata Ernst Vom Rath. Ele veio a falecer no dia 9 de novembro. Este foi o pretexto para que uma onda de violência deliberada atingisse a comunidade judaica na Alemanha, Áustria e parte da Tchecoslováquia, resultando na morte de quase 100 pessoas, na destruição de centenas de sinagogas e outras instituições judaicas, além de lojas pertencentes a judeus e até suas próprias residências. Bombeiros e policiais foram orientados a não fazerem nada. Há registros de que os bombeiros apagavam o fogo que se espalhava para fora de sinagogas para que não atingissem outros estabelecimentos, mas não apagavam o fogo que queimava a sinagoga.
O partido nazista culpou a comunidade judaica por este pogrom chamado de “Noite dos Cristais”, levaram mais de 30.000 judeus para campos de concentração e cobraram uma multa bilionária da comunidade pelos prejuízos causados. Kristallnacht foi um evento que aconteceu antes da 2ª Guerra começar. O mundo assistiu ao que aconteceu, mas pouquíssimos países reagiram dando abrigo para os judeus que queriam fugir da Alemanha. Esta data marca o rompimento de uma linha que já vinha sendo cruzada há muito tempo, sem que muitos se dessem conta da gravidade que isso vinha tomando.
Hoje, é fácil para nós olharmos o passado e perceber o que viria a acontecer depois disso, o assassinato de mais de 6 milhões de judeus neste genocídio conhecido como Shoá. Mas para quem vivia este período, era difícil acreditar que a situação ficaria pior. Por isso, Kristallnacht nos ensina que devemos ficar atentos para qualquer movimento que suprima os direitos de um povo, qualquer situação de flagrante desumanização do outro. Não é preciso esperar a barbárie para se manifestar. Levinas, filósofo judeu do século XX, disse que no judaísmo “o homem cujos direitos devem ser defendidos é, em primeiro lugar, o outro homem, não é inicialmente o eu. Não é o conceito “homem” que está na base desse humanismo, é o outro.”