30 de maio de 2019
Leia o discurso feito por Monique Ghelman Bitter, gestora de Relacionamento do Eliezer Max, durante a homenagem recebida pelos alunos participantes da Marcha pela Vida 2019 no Kabalat Shabat da Sinagoga ARI, em 24 de maio.
> Assista ao vídeo da homenagem no Facebook da ARI.
Meu nome é Monique Bitter e trabalho na Escola Eliezer Max há 7 anos. Durante todo esse período, venho, anualmente, apoiando a organização desta viagem em seus mais diversos aspectos, desde da definição do roteiro, da logística da viagem e do contato com as empresas que nos apoiam neste projeto internacional. Por essa razão, os nomes dos locais visitados, dos hotéis, das histórias, já me eram bastante familiares, mas nunca havia vivenciado esta viagem. Neste ano, finalmente tive a oportunidade de acompanhar esse incrível grupo de 25 alunos do 2º ano do Ensino Médio e ter como excelentes companhias, como responsáveis pelo grupo, a Carla Habif, professora de História e Coordenadora do projeto da Marcha e o Eduardo Sperandio, professor de física e atual coordenador.
Antes da viagem, senti a necessidade de me preparar para este grande desafio, compreender o que viria na Polônia: as emoções, as histórias e os locais, uma vez que eu, diferente dos alunos, não havia passado por um ano de preparação na escola. Eu me recordava das histórias que escutava em palestras como ex-aluna, particularmente dos detalhes do depoimento do Sr. Henrik Laks (zihronoh levrahá).
No entanto, ficava pensando em como seria estar lá? Perguntei a Carla o que ela me recomendaria para esta preparação, e ela me sugeriu que eu lesse o Livro do Primo Levi, “É Isso um Homem?”. Foi baseada nesse livro que eu pude compreender grande parte do que estava por vir. O livro não falava das atrocidades ocorridas nos Campos, mas sim das vidas que lá passavam, de homens que tinham histórias, famílias, identidade e sonhos, mas que, de um dia para o outro, não sabiam mais quem eles eram, não se reconheciam, não conseguiam exercer seus valores ou praticar suas crenças, pois o foco era simplesmente o de sobreviver …. O livro realmente me permitiu compreender a dimensão da Shoá e como era a luta das pessoas para sobreviver a cada dia, somente pelo fato de terem nascidos judeus, mas nada se compara a estar lá, nos campos de concentração, nos locais desenhados milimetricamente para escravizar as pessoas, para desumanizá-las, para compreender o incompreensível.
Iniciamos nossa viagem pela Polônia, onde visitamos inúmeros lugares, desde um antigo shteitel, onde tentamos imaginar como era a vida da comunidade que lá vivia e onde até dançamos e cantamos ao som do Violinista do Telhado, até o lugar onde as pessoas eram deportadas para os campos, sem ao menos conseguirem se despedir de suas famílias. Passamos também pelo local onde jovens, na idade dos nossos alunos, se reuniram para fazer resistência ao regime nazista e lutaram bravamente para tentarem seguir suas vidas. Participamos também de um shabat emocionante no grande Templo de Cracóvia, em uma linda cerimônia acompanhada por um coral de soldados israelenses.
Durante o período em que estivemos na Polônia tentávamos compreender pelo o que passaram os envolvidos na história da Shoá: as vítimas, os vitimizados ou aqueles, que mesmo vendo e entendendo tudo o que estava acontecendo a sua volta, simplesmente nada fizeram, se calaram ou se mostraram indiferentes. Mas, por outro lado, também conhecemos as histórias de diversas pessoas, que arriscaram tudo o que tinham e suas próprias vidas, para salvar ao menos uma vida, os justos entre as nações, para nos mostrar que mesmo diante o caos, pode haver a esperança.
Um dia que particularmente me marcou durante o período que estivemos na Polônia, foi o dia da Marcha da Vida, evento realizado no Iom Hashoá, que reúne milhares de pessoas, dentre elas muitos jovens de diversos países, para caminharmos juntos dos campos de Auschwitz a Birkenau, simulando o mesmo trajeto que as pessoas que sobreviviam às atrocidades dos campos, tinham que fazer, debaixo de muito frio e com fome, razão pela qual era denominada como A Marcha da Morte.
Neste mesmo dia, visitamos uma parte do museu de Auschwitz onde havia um enorme livro com milhares de páginas com nomes, sobrenomes e origem das pessoas que morreram nos campos, neste momento paramos e buscamos os nossos sobrenomes, pessoas que infelizmente não tivemos a oportunidade de conhecer. São nossas famílias, nossos antepassados que estavam lá e não seguiram a sua vida. No entanto, nós descendentes dos sobreviventes, estávamos lá, unidos, representando as nossas comunidades, nossas escolas, e celebrando o fato de estarmos vivos e estamos aqui hoje para provar que somos fortes e que nossos filhos e alunos não deixarão que isso aconteça novamente. Nesta semana comemoramos o Lag Baomer, data em que o nosso povo lembra que cessou a praga que recaíra sobre os discípulos de Rabi Akiva e também o dia do aniversário de falecimento de Rabi Shimon bar Yohai, logo passamos de um momento triste, para um momento de felicidade e foi com esta mesma sensação que partimos da Polônia e chegamos em Israel.
Durante 8 dias em Israel conhecemos diversas cidades e locais históricos de norte a sul do país, conhecemos as suas fronteiras e o seu povo, e com ele, o que faz deste país um local tão interessante: a diversidade que nele existe. Neste sentido, realizamos encontros diversos para compreendermos melhor a sociedade israelense, tais como drusos, árabes israelenses, moradores de kibutz, olim chadashim e os refugiados. Através dessas interações conseguimos dialogar e melhor compreender as pessoas e as culturas que estão por trás deste grande país chamado Israel.
Vivenciamos o dia de Iom Hazikaron, em uma cerimônia em memória das vítimas dos conflitos e de atos terroristas e no dia seguinte, comemoramos o Iom Hatzmaaut em uma grande festa nas ruas de Jerusalém. Neste ano incrementamos a programação do Eliezer Max com uma novidade, após o término do programa da Marcha da Vida, permanecemos em Israel por mais 3 dias com o objetivo de conhecermos um pouco mais sobre a Israel que desponta como uma Startup Nation, através dos investimentos em tecnologia e da cultura empreendedora. Visitamos algumas empresas de startup, Centros de Inovações bem como o Instituto Weizmann de Ciências.
Outro ponto marcante e surpreendente foi ter tido a oportunidade de nos encontrar com ex-alunos do Eliezer Steinbarg e do Max Nordau em diversos momentos da viagem. Por exemplo, foi um deles que nos guiou na visita ao Museu Itzhak Rabin em Tel Aviv. Já no Instituto Weizmann, tivemos oportunidade de conversar com outro ex-aluno e conhecer a sua linha de pesquisa de doutorado na área ambiental. Visitamos também a empresa Wix, uma startup de criação de sites e compreendemos, o por que Israel é um país que possui o maior número de start-up por habitante e as principais características que a tornaram uma nação empreendedora.
Nossos ex-alunos nos encheram de orgulho, pelo caminho que estão trilhando, pela sua identidade, valores e propósitos. É gratificante saber que estamos realizando a nossa missão de educar e formar jovens capazes de realmente fazer a diferença onde quer que eles estejam!
Shabat Shalom!