
24 de abril de 2025
Iom Hashoá Vehagvurá
Hoje é dia de Iom Hashoá Vehagvurá (Dia [da Memória] do Holocausto e do Heroísmo). Lembramos nesse dia as vítimas do Holocausto e o espírito de resistência de todos os que lutaram para combater as tropas nazistas, mesmo sabendo que seria muito difícil sobreviver. A data foi oficializada pelo então primeiro-ministro israelense David Ben Gurion em 1959, não apenas a fim de manter viva a memória de seis milhões de judeus aniquilados, mas também fazer com que o Holocausto chegasse ao conhecimento do mundo inteiro para combater as atrocidades cometidas em nome do antissemitismo e também do preconceito contra qualquer ser humano. O regime nazista também perseguiu e exterminou ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová, deficientes físicos e mentais, opositores políticos, entre outros.
Inicialmente o dia era conhecido apenas como “Iom Hashoá”, ou Dia (da Memória) do Holocausto, e sua agenda tinha uma ênfase maior no sofrimento infligido a milhões de judeus europeus pelos nazistas. Diante de um incômodo surgido entre os jovens, por parecer que os judeus europeus eram “conduzidos como ovelhas para o abate”, o currículo educacional israelense começou a mudar a ênfase para documentar como os judeus resistiram aos seus algozes nazistas por meio da “resistência passiva” – mantendo sua dignidade humana nas condições mais insuportáveis – e pela “resistência ativa”, lutando contra os nazistas nos guetos e juntando-se aos guerrilheiros clandestinos (os “Partisans”) que lutaram contra o Terceiro Reich em seus países ocupados.
“Lembrar para não esquecer”: esse é um forte lema que acompanha a manutenção da Memória do Holocausto. “Não relembrar, ou negar o Holocausto, significa assassinar as vítimas pela segunda vez; por outro lado, recordar, significa sentir compaixão pelas vítimas de todas as perseguições”, declarou Elie Wiesel, um sobrevivente da Shoá merecedor do Prêmio Nobel da Paz. O historiador Saul Friedlander observou que “quando há quem creia que o outro não tem o direito de existir, chegamos ao cruzamento dos caminhos entre a civilização e a barbárie”. É por isso que, além de recordar, de não esquecer, é importante compreender e nos comprometermos a seguir lutando pela civilização.
Os grandes Museus do Holocausto se preocupam com essa perspectiva educativa, e disponibilizam excelente material em português como por exemplo o Museu do Holocausto de Curitiba, o Yad Vashem, em Jerusalém e o Museu do Holocausto de Washington.
Como lembrar, como tratar e sobretudo, como educar para um episódio histórico tão ácido e cruel, não é tarefa simples, principalmente com crianças pequenas. Na nossa escola, para as idades iniciais (EFI), procuramos explorar os conceitos subjacentes ao tema a partir de histórias, refletindo sobre consequências implicadas pelo preconceito, exclusão e imposição de ideias supremacistas, ao invés de apresentar evidências históricas. A partir do Ensino Fundamental II, o tema já entra para o currículo de História e História Judaica, e as abordagens pedagógicas são aprofundadas e ampliadas ao longo da escolaridade, sempre com a preocupação de um olhar empático e responsável, despertando para as consequências da indiferença e intolerância.
Em poucos dias, estaremos levando nossos alunos da 2ª e 3ª série para Polônia e Hungria, no projeto Eliezer Max Pela Vida. Dentro dos objetivos do programa, vamos buscar conhecer e entender o que foi a Shoá, sempre com a perspectiva de conhecer características das diferentes comunidades judaicas e locais de memória que ilustrem como era a vida dessas pessoas antes da Shoá, para que a discussão sobre esse assunto, não se limite a contabilizar os mortos.
O pensamento eugenista e racista do nazismo considerava a suposta raça ariana superior, com todo seu ideal moral obsceno, nos fazendo perceber como as diferenças tornam-se potenciais inimigos. Entender que o nazismo se alimentou do antissemitismo desde a sua concepção, e elegeu os judeus como os principais vilões da sociedade alemã, tidos como uma raça inferior e manipuladora, causa de todos os males, é fundamental para compreender como foi possível o extermínio de mais de um terço da população judaica mundial. Depois do 7 de outubro de 2023 não é mais tão longínquo para nenhuma comunidade judaica o perigo do discurso antissemita.
Esperamos que assim, o projeto educacional judaico da escola seja capaz de contribuir para a formação de pessoas comprometidas com o mundo e com a memória judaica.