Shavuot 5782/2022

7 de junho de 2022

Shavuot é um chag que traz duas principais abordagens. A primeira está relacionada à Revelação do Sinai e à conexão fundante do Povo Judeu com a Torá e suas mensagens. A segunda se refere ao vínculo com a terra e à relação de cuidado mútuo entre as pessoas e a natureza. 

Em Shavuot, é costume passar a noite estudando em grupo, alimentando a alma com conhecimento e reflexões. Essa é uma tradição exclusiva de Shavuot, e claramente se refere ao caráter do recebimento da Torá. Em Shavuot, comemoramos a colheita de primícias que, após um ciclo necessário, a terra nos entrega em sua melhor versão. Em Shavuot, comemos derivados de leite, pois o pasto nessa época também está rico em nutrientes, e assim os animais produzem leite de excelente qualidade.

É um chag que nos lembra como devemos agir durante todo ano – de maneira ética e responsável. É um chag que nos lembra que para tudo é necessário dedicar um tempo de maturação para que possamos desfrutar, seja um fruto com o qual nos deliciamos através do paladar, seja o conhecimento através do deleite intelectual.

Em Shavuot, curiosamente lemos um livro que não está na Torá, a  Meguilat Rut (o rolo de Rut), cuja história se passa na época dos juízes. Uma linda história de amor e lealdade, protagonizada principalmente por duas mulheres, uma nora moabita e sua sogra judia, que após perderem seus maridos saem de Moav para Beit Lechem, em Israel, para aproveitar a época da ceifa da cevada, pois a lei judaica ordena que parte da colheita seja destinada ao estrangeiro, ao órfão e à viúva. Rut escolhe seguir sua sogra, seu povo e seu Deus, casa-se com Boaz, e tornam-se bisavós do conhecido Rei David. É uma história de revelação de justiça, amor e fé, em que a inclusão e a empatia imperaram.

Sete semanas após a libertação  da escravidão egípcia, o povo de Israel, liderado por Moisés, recebe as Tábuas da Lei. De acordo com a Tradição Judaica, ali foi revelada toda a Torá, e o  povo deveria estar preparado para recebê-la. A narrativa bíblica relata que foi durante um evento dramático e estarrecedor, guarnecido por relâmpagos, trovões, toques de Shofar e  uma nuvem de fumaça, que Moisés apresenta o livro da aliança e o povo diz:

[…]Faremos e ouviremos tudo o que o Eterno falou!” (Êxodo 24:7)   כֹּ֛ל אֲשֶׁר־דִּבֶּ֥ר יְהֹוָ֖ה נַעֲשֶׂ֥ה וְנִשְׁמָֽע׃ – Naasé vênishmá”

Nosso compromisso é com o fazer – “naassé” e com o escutar – “nishmá”. Escutar com a alma, refletir e também falar. Um exercício possível de fazer em comunidade, a partir dos ensinamentos e valores judaicos, exercendo nossa responsabilidade moral enquanto cidadãos. Esse é o objetivo de nos reunirmos no segundo dia de Shavuot, quando pretendemos vivenciar este chag com nossa comunidade, recebendo convidados, e fazendo da aprendizagem um processo que não para, e nos inspira e nos instrumenta a ler e reler, olhar ao redor e desfrutar novas revelações.

“Ouvir a palavra que te é dirigida, por mais desafinado que seja o som com que ela fira o teu ouvido, – e não deixar ninguém interferir! Dar a resposta vinda das tuas profundezas, onde vibra ainda o sopro daquilo que te foi insuflado, – e a ninguém é permitido te influenciar” 
Martin Buber