15 de setembro de 2023
{ROSH HASHANÁ 5784}
Por que comemoramos o ano 5784? Em Rosh Hashaná comemoramos a criação, e segundo a tradição judaica, este dia marca o começo do mundo. As primeiras palavras da Torá nos dizem: “bereshit bara elohim et hashamaim veet haaretz” – no princípio Deus criou o céu e a terra. Em 7 dias o mundo é criado, a luz, as águas, a terra, as árvores, os animais e o ser humano, homem e mulher, terminando com a criação do Shabat.
Mas por que nós ensinamos isso até hoje? Acreditamos que o mundo foi criado em 7 dias e há apenas 5784 anos? Como uma instituição de educação, temos apreço pela ciência que embasa todo o currículo escolar. Todos os nossos alunos saem da escola conhecendo o Big Bang – teoria cosmológica dominante sobre o surgimento do universo. No entanto, isso não invalida o ensinamento da nossa tradição. Acreditamos que transmiti-la é sumamente importante.
O ensino judaico está, acima de tudo, calcado em valores e em metodologias. Tomemos por exemplo a própria noção de ano novo. Embora seja uma festa de celebração, Rosh Hashaná também é um momento de reflexão e julgamento, como diz seu outro nome, Iom Hadin. Neste dia tem início Iamim Noraim, os dias temíveis, que culminam em Iom Kipur, dia do perdão. São 10 dias de introspecção e crítica pessoal sobre o que fizemos e como podemos nos tornar melhores.
Voltar ao princípio do mundo, à criação, nos leva a pensar o começo da vida, o desamparo inicial, condição a qual todos nós estivemos submetidos. Nesta etapa, necessitamos
inteiramente da presença e da ação do outro para existir. E embora esta dependência diminua gradativamente, em algum nível ela seguirá existindo ininterruptamente. Saber-se desamparado e encarar esta fragilidade nos impele a construir laços e entender que somos mais autônomos quanto mais nos reconhecemos dependentes uns dos outros.
Cada civilização escolheu um marco e construiu um sentido para sua temporalidade. Para o judaísmo, a passagem de ano remonta à criação e gostaria de trazer, para terminar, um aspecto de sua dimensão. Celebramos a criação do mundo e a dádiva da vida, agradecemos pela nossa existência – Shehecheianu – mas entendemos que o mundo não está terminado. As fontes judaicas nos ensinam que somos parceiros de Deus na criação. Fomos criados no 6º dia, à imagem e semelhança de Deus e temos a responsabilidade de seguir agindo para melhorar o mundo. Somos cocriadores, uma capacidade que implica em cuidados.
Como diz o Talmud “Não cabe a você terminar o mundo, mas você não está livre para abandoná-lo” (Pirkei Avot 2:16).
Shaná Tová Umetuká!
Equipe Eliezer Max