Como escolher “a melhor escola”?

28 de maio de 2023

Por Marcia Stein, coordenadora da Educação Infantil da Escola Eliezer Max

Quais são os critérios que devem entrar em pauta quando as famílias decidem que é o momento de escolherem uma escola para seus filhos? As expectativas de encontrar “ensino de excelência”, “bons resultados”, “ambiente bom e seguro”, “escola de renome” ou “escola forte” estão entre as que mais frequentam esse debate. Mas… Vamos examinar com uma boa lupa o significado de cada uma destas expressões? O que é ensino de excelência? O que se quer dizer com bons resultados? O que devemos considerar um bom ambiente? Como se faz, e a que custo, uma “escola forte”? Afinal, como se deve responder, de modo criterioso, à tal pergunta “Qual é a melhor escola”?

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Seguem abaixo, na forma de perguntas e respostas, algumas orientações que podem ajudar a iluminar o caminho de quem se encontra frente a esse importante momento de decisão familiar.

1 – Começando por quem está começando…

Desde a Educação Infantil, que é o segmento que marca a entrada da criança na escola e portanto no mundo social, é importante observar como a escola acolhe – não só as crianças, mas também suas famílias. Do modo como a família é recebida desde o primeiro telefonema ou a primeira visita até o modo como a escola recebe as dúvidas, questionamentos, angústias, críticas e inquietações trazidos por pais que estão vivenciando essa aventura de “entregar” seus filhos aos cuidados de terceiros, é fundamental avaliar se a instituição sabe acolher, mantendo o equilíbrio entre a clareza e a segurança acerca de seus princípios (fazemos desta forma porque…; não fazemos daquela forma porque…), a escuta às demandas familiares (podemos atender nisso, não podemos atender naquilo…) e a afetividade, inclusive nas situações em que é preciso colocar limites (estamos à disposição para conversar, tentar atender até onde nos for possível e dizer não quando necessário).  

2 – Tradição ou inovação? 

E, por falar em princípios institucionais, o Projeto Pedagógico de uma escola é como se fosse a Carteira de Identidade da instituição. É uma Carta de Princípios que registra não somente os paradigmas teórico-metodológicos adotados institucionalmente (tópicos conhecidos como “método de ensino”, “linha” ou “filosofia” da escola…), o programa curricular que se compromete a seguir (os chamados conteúdos), a estrutura da equipe (quem são os profissionais que compõem a equipe, como interagem e o que fazem), a rotina de funcionamento, mas também a forma como a equipe entende e trabalha alguns valores e conceitos fundamentais para a prática pedagógica, tais como infância, adolescência, aprendizagem, desenvolvimento socioemocional, avaliação, ética, convivência, disciplina, desempenho, entre outros… Ao observarem o PP da escola, os familiares devem perceber se o discurso institucional revela transparência, clareza, coerência e bom nível de fundamentação sobre cada um dos aspectos listados acima, além de equilíbrio entre o respeito às tradições e a valorização das inovações; e, sempre, avaliar se o discurso institucional está alinhado aos valores de sua família.

3 – Esta é uma escola que aprende? Todos os funcionários são considerados educadores?

3.1. A equipe de uma escola, do porteiro ao diretor, são as pessoas que lidam cotidianamente com os alunos e com as famílias, e por isso devem ser considerados como uma equipe de educadores, ou seja, como um grupo de indivíduos responsáveis por transmitir, cotidianamente, bons exemplos aos alunos, através de posturas, valores, atitudes e comportamentos. 

3.2. Quanto à equipe pedagógica propriamente (direção pedagógica, coordenadores e orientadores pedagógicos, professores, estagiários etc.), além de todos os aspectos mencionados acima, esse conjunto de profissionais deve:

  1. demonstrar excelentes níveis de formação técnica e especialização para a área em que atuam;
  2. apresentar apropriação, atualização e alinhamento com relação ao projeto pedagógico da escola, bem como habilidade para desdobrá-lo em suas práticas cotidianas;
  3. ter habilidade para responder perguntas, tirar dúvidas e orientar alunos e familiares com segurança e transparência com relação a qualquer aspecto da prática pedagógica.

3.3. Os familiares devem, também, procurar saber se a escola investe na excelência da equipe pedagógica, através de ações como: 

  1. contratação de profissionais com a formação específica definida pela legislação e experiência em instituições reconhecidas; 
  2. promoção de ações de formação continuada com temas, abordagens e conteúdos relevantes e atualizados;
  3. incentivo para que a equipe pedagógica frequente congressos, seminários e demais fóruns de formação / atualização em Educação/Pedagogia e áreas afins (Psicologia, Ciências, Cultura, Arte, Atualidades, entre outras)

 

 4 – O que se deve observar com relação ao “clima” da escola?

Os familiares devem observar atentamente o quanto a escola investe na constituição de um clima institucional sadio. Esse aspecto pode ser avaliado através da observação do comportamento e da postura de quem integra a comunidade escolar. Funcionários, alunos e familiares atenciosos, afetuosos, disponíveis, ativos, bem informados, e com aquele “brilho no olho” são indicadores de que tudo caminha bem.

5 – Como deve ser o espaço físico (salas, áreas de convivência, áreas abertas, áreas de alimentação, laboratórios, auditórios etc.) e a infraestrutura (equipamentos em geral, mobiliário, material pedagógico, recursos tecnológicos) da escola?

Mais do que ser grande ou ter muitas coisas, precisa ser convidativo, atraente, ter dimensões e recursos suficientes para que os alunos de cada faixa etária tenham oportunidades de circular por ambientes preparados para cada gênero de atividade (aula, convivência, recreação, conversa, leitura, pesquisa, debate, apresentações, exibição de filmes, repouso etc.), se movimentar, explorar, observar, conhecer e vivenciar estímulos motores e sensoriais diversos. Em suma, mais do que a existência de lugares ou equipamentos complementares às salas de aula, o que importa são as situações de usos e a regularidade com que os alunos têm acesso a eles.

 

 

6 – O que se deve esperar da escola com relação a itens como disciplina, regras e abordagem de temas delicados?

É fundamental analisar criticamente aquilo que podemos nomear como o Código de Ética da escola. Ainda que não com este nome, toda escola tem uma forma de lidar com as regras, com a disciplina, com os limites, com temas desafiadores, enfim, com os parâmetros de convivência social e acadêmica propostos para a comunidade escolar. E aqui também a ideia é que a família possa avaliar se esses contornos propostos são alinhados com os contornos que os familiares consideram adequados. Cabe pesquisar como a escola atua, por exemplo, com relação a aspectos disciplinares, ou seja, com relação aos tais LIMITES: o que pode, o que pode dependendo de cada caso, o que não pode de jeito nenhum; Se há um equilíbrio entre o olhar para todos (a turma, o grupo, a comunidade) e o olhar para cada um (dimensão subjetiva, individual); Como se conversa sobre as regras e o que se faz em casos de indisciplina de maior ou menor gravidade, se há punições, sanções, se há diálogo, escuta, se os critérios são transparentes, claros e construídos com a participação da equipe e dos alunos, se as regras são compartilhadas com os familiares etc. E, ainda, se a escola atua com posicionamentos responsáveis, firmes e respeitosos – preventivamente ou em contexto de crise – com relação a casos de discriminação, bullying, preconceito, conflitos graves ou em casos de alunos que não conseguem acompanhar o ritmo da turma, seja por dificuldades de ordem acadêmica ou de ordem socioemocional; Especialmente quanto aos bons resultados, é importante entender a que custo eles são obtidos, ou seja, se eles – os resultados – são conquistados como consequência de processos de ensino-aprendizagem consistentes e inclusivos (ou seja, que atendem a todos os alunos da turma) ou se a escola utiliza-se de estratégias seletivas para conquistar bons resultados, seja criando “turmas fortes” em detrimento de parte do grupo ou atraindo bons alunos de outras escolas em troca de benefícios etc. Afinal, bons resultados devem ser consequência da excelência do projeto pedagógico da escola, que se traduz em um percurso global e duradouro de investimentos na qualidade do ensino, no acolhimento a todos os alunos e na atenção aos diversos aspectos do desenvolvimento humano. 

7 – Como deve ser a postura da escola para além de seus muros?

As responsabilidades de uma escola, como instituição formadora de pessoas, transpõem os limites de seus muros. Além de formar estudantes e futuros profissionais, escolas formam sujeitos, formam cidadãos. E, além de formar seus alunos, uma escola forma toda a sua comunidade, o que inclui familiares dos alunos, funcionários, parceiros e colaboradores. Nesse sentido, toda instituição escolar deve delinear, como parte de sua missão, parâmetros para ações relacionadas às suas responsabilidades nos âmbitos comunitário, ambiental e social. Organizar seminários e debates que ajudem a informar sobre temas como eleições ou saúde pública, apoiar movimentos de sua comunidade no sentido de tornar o entorno mais seguro e sustentável, apoiar e fomentar projetos sociais relacionados à população da vizinhança são alguns exemplos de ações que evidenciam o compromisso institucional além-muros. 

Considerações finais

Hoje em dia, mais do que nunca, a gente sabe que as crianças não vão à escola somente para “aprender as matérias”. Para além do acesso aos conhecimentos, a escola promove o acesso a oportunidades nos mais variados campos da vida: é esse ambiente que abre as portas para o mundo social, e que aponta caminhos adequados para se inserir nele, que possibilita a construção de relações com a cultura, com o conhecimento e especialmente relações de interação afetiva com outras pessoas – que muitas vezes se consolidam como amizades para toda a vida -, que ensina a enfrentar desafios, frustrações, a nomear sentimentos e a lidar com eles, que nos ajuda a definir os contornos entre o que somos individualmente e o que somos socialmente, que lança as bases para nos tornarmos os indivíduos, os cidadãos, os pais, os amigos, os profissionais que seremos no futuro… E é essa curadoria, ou seja, a forma como cada escola escolhe apresentar o mundo aos seus alunos – os recortes, as ênfases, o que é mais ou menos valorizado – que devemos considerar ao escolher “A melhor escola”. 

Afinal, não há uma melhor escola para todos, mas, sim, a escola que melhor responde às expectativas, demandas e projetos de vida de cada família, aquela com a qual é possível estabelecer vínculos identitários, de pertencimento e confiança, sem os quais não poderão se estabelecer as bases para uma parceria sadia, fértil e duradoura, que suporte tanto as conquistas e alegrias do percurso quanto as falhas, frustrações e os desapontamentos inevitáveis. Porque, afinal, a escola, junto com a família, ensina a viver… Cada um no seu lugar, todos os envolvidos nesse processo – familiares, crianças, gestores, professores – aprendem, juntos, e se tornam corresponsáveis pela pavimentação desse percurso singular que se dá ao promovermos e acompanharmos o desenvolvimento de cada indivíduo que chamamos de aluno.